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Alvo da ação foram livros com temas palestinos. Entenda como a extrema direita ameaça a liberdade de expressão
A polícia israelense realizou uma operação na Jerusalém Oriental no domingo, 9 deste mês, prendendo Mahmoud Muna e Ahmad Muna, proprietários da Educational Bookshop, livraria reconhecida por seu acervo diversificado e plural. A justificativa das autoridades foi a presença de livros considerados “incitantes” com “temas nacionalistas palestinos”. O episódio acendeu um alerta sobre a crescente repressão a instituições culturais e a liberdade de expressão sob o atual governo de extrema direita em Israel.
Mahmoud Muna estava na livraria quando sete detetives chegaram com um mandado de busca. A polícia revirou as prateleiras e confiscou diversos livros, incluindo um livro de colorir infantil chamado Do Jordão ao Mar e obras do intelectual judeu Noam Chomsky, que já escreveu críticas a Israel. Segundo Mahmoud, qualquer título que fizesse alusão à Palestina foi levado.
A abordagem aconteceu enquanto sua filha de 10 anos estava no local, recebendo ajuda do pai no dever de casa. Mahmoud afirmou que os agentes não deram explicações claras sobre os critérios usados para classificar os livros como “incitantes”.
“Eu perguntei qual é o critério para decidir se algo é incitante ou não? E eles disseram que sabem o que fazem”, disse Mahmoud à NPR. Após a busca, ele e seu sobrinho, Ahmad Muna, administrador da biblioteca, foram levados sob custódia.
Mahmoud e Ahmad passaram cerca de 48 horas detidos no Complexo Russo, onde, segundo disseram enfrentar condições desumanas. Mahmoud descreveu celas superlotadas, agressões físicas e verbais e um ambiente de constante intimidação. “Eu estava em uma cela de quatro por quatro metros com dez pessoas, sendo humilhado o tempo todo. Na condição em que eu estava, fui imediatamente assumido culpado.”
Os dois foram libertados sob fiança, mas foram proibidos de voltar às livrarias por duas semanas e permaneceram em prisão domiciliar por cinco dias. Parte dos livros apreendidos foi devolvida, mas as autoridades mantiveram alguns exemplares, levantando suspeitas de que o caso ainda pode ter novos desdobramentos.
A repressão às livrarias se insere em um contexto mais amplo de restrições à liberdade de expressão em Israel, especialmente após os ataques de 7 de outubro. O governo vem intensificando o controle sobre jornais, censurando produções culturais e reprimindo manifestações de identidade palestina.
Para os donos da Educational Bookshop, o episódio não é apenas um ataque a seus negócios, mas uma ameaça maior à disseminação do conhecimento e à pluralidade de vozes. “Este é mais um passo no apagamento das vozes palestinas”, alertou Mahmoud.
Apesar das dificuldades, as livrarias continuam abertas e receberam uma onda de solidariedade, inclusive de israelenses que se dizem envergonhados com a situação.
Foto de capa: Mahmoud Illean/AP